sábado, 27 de julho de 2013

Carta à minha Lia


Te vejo surgir por aqui. Sinto tamanho amor, tanto você cresce e se espalha em mim.
Há tanto anos que desejo esse acontecimento único na vida de uma pessoa, lembro que eu não tinha 18 anos e desejava com muito afinco ter filhos (um casal). Tantas vezes me questionei porque tropeçava nesse desejo, porque me sabotava em desencontros. Uma vez me despedi e chorei, me perdoei e segui. Continuei na vida me questionando as auto-sabotagens, mas seguindo em frente. Foi quando eu conheci teu pai com muito amor brotando. Na verdade conheço teu pai desde que éramos pequenos, mas foi mais tarde, já adultos, que nos envolvemos com amor, e que amor! O que sinto por ele às vezes até dói (assim como o que sinto por você). Percebo que vivemos e viveremos intensamente este sentimento que às vezes parece sangrar. A gente segue junto na vontade de se querer bem e se querer gostando. Foi desse amor brotando-brotado que veio um desejo grande nosso de vir você e aí não tinha mais espaço pras minhas auto-sabotagens.
A notícia da tua chegada aconteceu poucos dias antes do aniversário de 30 anos do seu pai, que felicidade ampla! Seu pai comemorou em drinques, eu comemorei em sorrisos e satisfação interna. Pra selar nosso amor e felicidade, nos casamos com você no meu ventre. Vieram seus avós todos, seus tios e tias, numa comemoração intimamente gostosa.

Mas a vida é muito perspicaz mesmo e claro que há momentos de muitas angústias, fúrias e tristezas. Quando você era pequenina aqui dentro eu temia tanto que você viesse enfrentar toda essa adversidade daqui de fora! Ah, como eu chorei em pensar seus possíveis e inevitáveis sofrimentos! Choro ainda, temo por você. Mas juntos somos fortes! Seu pai é um homem forte, minha filha, admiro tanto ele. E eu também acho que não fico muito atrás. Durante o tempo que te carrego aqui, insisto em manter as atividades cotidianas normalmente, por mais que digam que grávida não pode isso, não pode aquilo, eu quero mostrar pra você que mulher não é sexo frágil, mulher é delicadeza e força, mulher é luta e encantamento. Quero levar essas lições da vida aqui de fora pra você, minha filha, desde a sua gestação!
E dessa força que nós temos, diria que a primeira adversidade que eu e seu pai enfrentamos com você no nosso ventre foi o simples fato de ter você. Sim, já desde o momento da notícia da sua vinda já houve um certo desconforto em torno - olhares, pensamentos, será que vai dar certo? - Depois, quando enfim decidimos que o melhor lugar pra você nascer é em casa e a melhor pessoa pra acompanhar esse grande acontecimento na sua vida é uma PARTeira, mais questionamentos, adversidades e destroços. Nós queremos delicadeza neste momento, minha filha, queremos intimidade, queremos continuar com o clima da nossa união que é uma coisa íntima e gostosa. Pra gente, desde o início, gestação não é doença, então nada mais natural que não ser acompanhado em centro de saúde e finalizado numa maca de hospital, quiçá numa desnecessária cirurgia. Te sentir sair em dor, minha filha, vem completar esse desejo que começou há mais de 15 anos, vem se unir com amor, vem mostrar que a vida é dor-com-amor-amor-com-dor, tem muito sofrimento nessa vida e tem muita felicidade, tem brindes. Eu e teu pai cuidamos do teu ninho, brindamos tua vinda, linda Lia!
Com muito carinho,

Tua mãe.
Picinguaba, 27 de julho de 2013

Um comentário:

Ventos Internos disse...

Eita coisa linda!
E ela já chegou.
Veio que veio, determinada.
O lindo do amor é que ele brota, vem e só se multiplica.
Amor nunca vai faltar para a Lia e isso é o mais rico e fundamental para qualquer ser.
Transbordo de amor em ler suas palavras.
<3